Bruno Carmelo
O comediante
Sacha Baron Cohen ficou famoso por seu humor corrosivo, politicamente
incorreto, voluntariamente grosseiro e vulgar. Em Borat e Brüno, ele colocava suas piadas à prova do real,
confrontando-se com pessoas que às vezes sequer sabiam que faziam parte de um
filme, explorando o mecanismo das pegadinhas e das câmeras escondidas. Além do
incômodo da temática, a forma também era eticamente contestável, porque nunca
explicava ao espectador onde terminava a realidade e onde começava a encenação.
Em O Ditador, no entanto, o comediante
muda radicalmente sua técnica. Sumiu a suposição do real: esta história é
claramente roteirizada do início ao fim; não houve improvisação, todos os
participantes estão conscientes de estarem em um filme. Mesmo algumas estrelas
como Ben Kingsley e John C. Reilly aparecem em pequenas cenas, torturando o
protagonista ou lambendo suas axilas.
Assim, o
diretor Larry Charles confronta-se pela primeira vez à linearidade, à obrigação
de contar (e desenvolver) uma história do começo ao fim. Nasce então um grande
problema, ao percebermos que nem o roteiro, nem a montagem conseguem trabalhar
nos moldes da comédia tradicional. Todas as piadas são lentas, longas, retornam
em cenas paralelas e perdem grande parte da comicidade pela falta de ritmo.
O tema de um
ditador confrontado à cultura americana poderia significar que teríamos mais
uma vez uma crítica da cultura estadunidense pela metáfora do estrangeiro, como
era o caso de Borat e Brüno. Mas os cidadãos americanos são curiosamente
poupados nesta produção inofensiva, domesticada, preferindo piadas
escatológicas às crônicas sociais. Sendo um filme sobre a política, é
imperdoável que O Ditador seja tão pouco politizado, tão inocente.
Talvez pela
dificuldade de financiar uma produção sobre ditadores islâmicos, ou talvez para
atingir um público maior, O Ditador trocou o duplo sentido por um filme
explícito e repleto de boas intenções. Baron Cohen não incomoda mais, também
não faz mais rir. Seu ditador parece mais um Debi & Lóide norte-africano,
um general Trapalhão. Em busca de público, o filme perdeu sua mensagem.
http://www.adorocinema.com/filmes/filme-188021/criticas/espectadores/recentes/star-3/ Acesso em 14 de Setembro de 2012
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